Autor: Pr. Eduardo Bergsten
Como lidar
com a vara nos dias em que a lei diz: Não bata! Eduque! ?
De acordo com dados
oficiais, 18 mil crianças são espancadas diariamente no Brasil. Cerca de 3.600
são mortas todos os anos, vítimas de negligência, violência física, abuso
sexual e psicológico. Para o Ministério da Saúde, 38% das mortes abaixo dos 19
anos são causadas por agressões.
Estamos vivendo em
uma sociedade corrompida e violenta, como nunca se viu antes. Tudo isso é um indício
de que estamos vivendo o tempo do “princípio das dores” conforme lemos em Mateus
24.1-14. Temos presenciado muitos destes acontecimentos, inclusive o citado no
versículo 12 que diz: “E, por se
multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.” Outro trecho que
podemos comprovar as crueldades familiares dos últimos dias está em Marcos 13.12
"E o irmão entregará à morte o
irmão, e o pai ao filho; e levantar-se-ão os filhos contra os pais, e os farão
morrer." Todas estas coisas estão hoje em dia acessíveis diariamente
nas manchetes dos jornais de todo o país, é cruel, assustador,
verdadeiro, estão acontecendo e muitos de nós não nos damos conta da
relevância
que tudo isso tem para Igreja.
A bem pouco tempo atrás,
minha mãe que é Psicóloga e exerce sua atividade no Canadá, país cujas leis são
bem rigorosas e funcionam, recebeu um convite de uma igreja para dar uma palestra
e o tema era: "O que não faz uso da
vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga." (Provérbios 13:
24). Como falar de vara, sendo ela uma profissional habilitada e tendo que
cumprir as leis, em um país onde a lei proíbe qualquer tipo de castigo físico
imposto às crianças? Até este ponto, minha interpretação e cultura sempre
considerou o uso da vara um instrumento de disciplina, mas, foi então que
comecei a pensar e ler sobre este assunto para poder me colocar de uma forma
bíblica e, ao mesmo tempo em que não fosse contra as leis.
Por outro lado, no
Brasil está se votando um projeto de lei (PL) muito parecido com as leis já
existente em países como Canadá, Estados Unidos entre outros, é a PL
7672/2010 que proíbe o uso de qualquer forma de violência e agressão contra as
crianças inclusive o uso de palmadas, chineladas, varas e etc. Mas como nós, os
cristãos ficamos diante desta lei? O que ela realmente pretende e qual deve ser o
papel da Igreja diante destas coisas? Para responder estas perguntas,
precisamos primeiro ler, entender e comparar a bíblia com todo este contexto sociocultural.
A primeira coisa que podemos ver, quando a bíblia faz menção do uso da vara, ela está dando um conselho e não ordenando, não é uma lei, ou seja, o uso da vara não era obrigatório e se alguém não praticasse, portanto não estava sendo impelido a ele um pecado. Quase todas as passagens sobre “vara e correção” estão no livro de provérbios, um livro de conselhos e sabedorias para o povo de Israel. Vemos também uma passagem parecida com esta, agora no Novo Testamento, no qual o escritor do livro de Hebreus diz que: “O Senhor corrige a quem ama e açoita a qualquer que recebe por filho...” (Hebreus 12.5,6). Esta passagem é uma figura de linguagem, pois nunca vi em toda a minha vida, Deus descer como uma vara literalmente e açoitar ninguém. Outro sim, o escritor de Hebreus demonstra ter conhecimento das práticas e costumes judaicos e transmite a sua interpretação de uma disciplina de Deus para um filho, segundo costume da sua própria cultura.
Podemos também
observar que a disciplina com a vara, citada em Provérbios, fazia parte
de uma cultura, um costume da época e que vem sendo transmitida esta ideia, por séculos até
chegar aos nossos dias. As culturas evoluem, o mundo evoluiu, o conhecimento e
estudos sobre o ser humano saiu do campo filosófico e alcançou o nível
científico. Passou-se a estudar o comportamento do homem, suas relações sociais
e tantos outros conhecimentos que hoje temos, jamais se conheceu no passado. A
profecia narrada em Daniel 12:4 se cumpriu! A ciência tem se multiplicado. E
com toda ciência e conhecimento do estudo comportamental, é fato que a agressão
física na disciplina não contribui, destrói. Observe que eu disse "agressão". Se evoluímos tanto culturalmente,
temos que encontra o que hoje seria substituto da correção com vara e que
traria os mesmos efeitos.
A função da vara
era provocar dor, não demasiada, mas que inibisse a criança de cometer
um erro,
uma indisciplina ou rebeldia contra seus pais, tutores e sociedade em
geral,
pelo método conhecido da ação+reação= mudança de comportamento, ou seja,
errou!
Apanhou! Aprendeu! Hoje existem formas e meios de se produzir o mesmo
resultado,
Utilizando a psicologia, o bom senso, uma boa dose de paciência e amor, o
que tem faltado
para muitos pais na educação dos seus filhos. Mesmo entendendo que a
vara, no contexto da disciplina também é um instrumento de amor, mas se
usado erradamente, o que ocorre muitas vezes, deixa de produzir o efeito
proposto e os resultados são traumáticos.
E meu terceiro
argumento é que, sendo a vara um acessório para disciplina no Velho Testamento,
tempo que nos remete as Leis de Deus, entre elas a do “olho por olho e dente
por dente” (Êxodo 21:24), que nem de longe nós, povo de Deus, pensamos em praticar, e vindo Jesus, cumprir
as Leis nEle mesmo, para se fazer justiça por nós e estabelecer a Graça de
Deus, vamos continuar presos a práticas e costumes muito relacionados com a
antiga lei de Deus se Ele levou sobre si nossas iniquidades e o castigo, a vara
da correção, a surra pela indisciplina e pecado, Ele já levou sobre si, e pelas
suas feridas nós somos perdoados e sarados (Isaias 53), por que eu continuaria
infligindo a meus filhos o mesmo castigo? Graças a Graça que a mulher adúltera
não foi apedrejada (João 8:11). Graças a Graça hoje eu não sofri a correção com
as mesmas chicotadas que Jesus recebeu, pelos meus pecados. Graças a Graça hoje
eu posso parafrasear o mesmo texto de João 8 e dizer, quem nunca mereceu uma
boa surra pelos seus erros que dê a primeira palmada!
Hoje a vara, a
correção física é usada por muitos, sem amor, na hora da raiva, um pai agride
seu filho, em nome de uma correção, dando lhe uma bofetadas, surra com fio, cinto, chinelo, cabo de vassoura, etc.., por
coisas tão banais, que podem e devem ser tratados de outra maneira, e não estou falando só de pais ímpios e sem
Deus, estou falando de pais cristãos que se nomeiam “salvos em Jesus Cristo”,
batem nos seus filhos com ódio, raiva e tantos outros sentimentos no coração. Os
números da violência doméstica estão ai, falam por si só, sem contar nos milhares
de casos que nunca chegaram nem chegarão nas estatísticas.
Mas qual seria a
forma certa de disciplinar? O que de fato substitui a vara? Biblicamente como
podemos cumprir nosso papal de pais e educar nossos filhos?
Usando a mesma
mensagem que se quer transmitir com a utilização da vara em uma criança,
provocar certa dor, que venha inibir a continuidade de um comportamento
repreensível, podemos utilizar a técnica de tirar temporariamente ou
definitivamente coisas ou benefícios que o filho tenha. Ou seja, meu filho,
cometendo um erro ou uma desobediência é tirado um brinquedo, um tempo de
lazer, uma viagem que iria fazer, entre tantas outras coisas que provoquem uma
dor “emocional” não demasiada, mas que ele entenda que comento aquele ou outro
erro vai lhe ser imposta. Certa vez, eu ouvi de um pai que, no processo de
disciplina orientou a filha que se ela mantivesse um comportamento
repreensível, ele iria punir a “bonequinha” da filha. A filha então manteve o
comportamento errado e o pai cortou os dedos da boneca com uma tesoura, no que a filha chorou muito, mas aprendeu a
lição e corrigiu definitivamente sua postura. Ouvi da própria filha, que hoje
já é uma mulher casada, que esta disciplina foi muito forte, mas que valeu
muito para ela. Como vemos podemos utilizar vários recursos, para ensinar, educar
e corrigir nossos filhos, sem o uso da
vara como castigo físico.
É indispensável,
que todo o processo de punição por um erro, venha acompanhado com ensinamento e
muito amor, o filho tem que saber, ver e sentir que a punição que está
recebendo pelo seu erro é fruto de um amor por ele. Não basta punir, colocar de
castigo, tirar algo do filho, tem que haver todo o processo de ensinamento. Os
pais devem conduzir seus filhos ao arrependimento, levá-los a pedir perdão a
Deus e também repar o erro que cometeu: Pedir perdão a quem ofendeu, substituir
algo que quebrou ou perdeu, devolver algo que roubou, etc.. A soma dos dois
processos, punir e levar o filho a corrigir é que vai trazer o ensino e
comportamento esperado.
A bíblia nos leva
para um novo nível de correção e disciplina, Deus deixou em sua
Palavra as instruções corretas de como devemos educar nossos filhos: “E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos
filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor” (Ef 3.6); “Ouve
ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; Amarás, pois o Senhor teu Deus
de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu entendimento; E
estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as intimarás a
teus filhos, e delas falarás assentado
em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te; e também as
atarás por sinal na tua mão e te serão por testeiras entre os teus olhos; e as
escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas portas” (Dt 6.4-9).
Temos condições de
educar e criar nossos filhos, biblicamente sem o uso da vara como castigo
físico. Como pais precisamos criar alvos claros e definidos para nós mesmos e
para os nossos filhos, se fizermos isto, certamente teremos muito pouco o que
corrigir. Para isto os pais têm que conhecer quais os alvos que querem atingir
para si e para os seus filhos; Quando
falamos de alvos para os filhos, percebemos que muitos pais têm alvos para alcançar,
projetos definidos, enquanto outros pais não têm nenhum alvo para atingir. Os
pais precisam saber os alvos que Deus tem para seus filhos. Não são os nossos planos
e metas que devem ser atingidos, mas os planos de Deus para as nossas vidas e de
nossos filhos. (Sl.127.3-4) Nosso
principal alvo é criar filhos que confiam em Deus e que tenham atitudes que manifestem
um caráter segundo o padrão de Deus. Em cima destes alvos e dos princípios
éticos, bíblicos e razoáveis o Espírito Santo nos transmitirá como e o que
fazer, em determinado instante, em detrimento de uma correção, visando levar
nossos filhos a “estatura de varão perfeito”, sem o uso da agressão ou
disciplina física pela vara.
Concluo então que a
PL 7672/2010, a Lei da Palmada, não é antibíblica, não ferindo em nada
os princípios
éticos cristãos, como é o caso, por exemplo, da Lei a favor do aborto.
A “Lei da Palmada” não é a favor de pecado e sim de uma mudança
de hábito e comportamento em favor de muitas crianças brasileiras que
vêm sofrendo
indiscriminadamente todo tipo de violência, agressões, abusos sexuais,
entre
tantos outros males. Vejo como uma contribuição para a Igreja, uma vez
que
somos radicalmente contra todas estas coisas, que só fazem destruir as
crianças, onde bem sabemos de quem é o papel de “matar, roubar e
destruir”. Que
possamos usar a lei ao nosso favor e entrar nas casas, e famílias
ensinando os
pais a educarem seus filhos no temor do Senhor e ainda, como
instrumentos do
Senhor, curar corações de crianças , feridos por toda espécie de abuso e
agressões
que elas sofreram, levando-as a Jesus, que de braços abertos, diz:
“deixai vir
a mim as criancinhas...”, seja esta, na casa de uma família que ainda
não serve
ao Senhor ou de uma que sirva, mas não aprendeu corretamente como educar
seus
filhos, quebrando paradigmas e renovando o entendimento para uma nova
forma de
se corrigir e disciplinar as nossas crianças, em amor.
"E não sede conformados
com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento,
para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de
Deus." (Romanos 12 : 2)
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